sábado, 20 de abril de 2013

+ CIDADANIA: o debate público "Dia Mundial das Sete Fontes"



A Câmara Municipal de Braga desistiu da construção de uma variante, na qual estava prevista a passagem sobre os terrenos onde assenta o complexo eco-monumental das Sete Fontes.
Esta ideia foi defendida pelo vereador responsável pelo pelouro do urbanismo, Hugo Pires, intervindo como convidado em mais um debate público promovido, na passada quinta-feira, pelas associações JovemCoop e Braga +, que tinha como tema o monumento que mais mobilizou os bracarenses no último século. 
«Posso garantir que a variante de acesso à Estrada Nacional 103 não vai passar pelas Sete Fontes», afirmou este responsável, completando que «se não houver alternativa» a este traçado, o projeto  poderá mesmo «ser abandonado».
Hugo Pires: «Se fosse hoje estaria mal permitir a construção nas Sete Fontes»
Salientando que a intenção da autarquia é «impermeabilizar o menos possível o solo das Sete Fontes», o vereador que assumiu, desde 2009, a pasta do urbanismo não conseguiu garantir que não haverá mais construções nos terrenos onde assenta as Sete Fontes.
«Estamos empenhados em reduzir ao máximo a capacidade construtiva», asseverou, perante as muitas questões que lhe foram endereçadas.
Num debate que lotou o auditório da Junta de Freguesia de S. Victor, Hugo Pires confessou ainda que a autarquia «esteve mal» ao permitir a urbanização naqueles terrenos, ocorrida aquando da revisão do Plano Director Municipal em 2001.
«Hoje, à luz do que sabemos hoje, penso que era desnecessário», admitiu, reconhecendo publicamente, pela primeira vez, o erro da autarquia na classificação dos terrenos das Sete Fontes como solo urbanizável.
Este responsável autárquico aproveitou ainda a oportunidade para anunciar a intenção da Câmara Municipal de Braga em adjudicar quatro grandes áreas verdes na zona urbana, nomeadamente criando um parque verde nas Sete Fontes e um outro, que está em estudo, «entre Lomar e Ferreiros».

Firmino Marques: «Não pode haver inocentes na questão das Sete Fontes»
Um dos nomes mais sonantes pela preservação das Sete Fontes, Firmino Marques, foi também interveniente na mesa de discussão de um debate moderado pelo coordenador-geral da JovemCoop, Ricardo Silva. 
Para o presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, o ano de 2001 «foi um momento chave para as Sete Fontes», salientando que foi «gravíssima a classificação dos terrenos das Sete Fontes como área urbanizável».
«Não pode haver inocentes na questão do desenvolvimento», atirou, deixando no ar uma crítica implícita à ação do executivo municipal.
O autarca recordou ainda que assumiu o policiamento do monumento, «sem ter essa competência», dada a «negligência» a que estava votado.
«Não sou um extremista das Sete Fontes, como alguns dizem. Sou um extremista de Braga e dos bons costumes», referiu ainda.
Firmino Marques defendeu também a necessidade de homenagear José Moreira, «um dos rostos pela defesa das Sete Fontes», que a Câmara Municipal de Braga tem rejeitado memorar.

Miguel Bandeira: «Trocava 10 Confianças pela reabilitação das Sete Fontes»
Convidado também para este debate, Miguel Bandeira, representante da ASPA, lamentou o facto das Sete Fontes «continuarem a aguardar proteção», estando sujeitas a «poluição», «vandalismo» e  «evidente degradação».
«Quem representa o interesse público deve tomar a dianteira na proteção e salvaguarda deste monumento», sublinhou, recordando que se trata de «um património que pertence a todos».
O geógrafo da Universidade do Minho fez questão de sublinhar, diversas vezes, os 18 anos passados desde o primeiro alerta dado em relação ao monumento.
«O grande problema é estarmos todos de acordo», referiu, mostrando a sua perplexidade pelo facto de as Sete Fontes estarem «cada vez pior» apesar desta unanimidade.
«Eu trocava 10 fábricas Confianças em troca da reabilitação das Sete Fontes», acrescentou.
No início do debate público, realizado no mesmo dia em que se assinalava o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, Miguel Bandeira foi agraciado com o título de sócio honorário da Braga +.

Isabel Caldeira: «As Sete Fontes não podem esperar por decisões políticas»
Na qualidade de representante do movimento cívico dos peticionários pela salvaguarda das Sete Fontes, Isabel Caldeira lamentou o facto do processo das Sete Fontes não se apresentar como «transparente» aos olhos dos cidadãos.
«Se fosse um processo transparente, não deveriam ser colocadas as questões num debate público, mas olho no olho com as entidades implicadas na proteção das Sete Fontes», referiu.
Contradizendo a ideia veiculada por Hugo Pires de que a autarquia sempre quis proteger o monumento, a representante dos peticionários, que em 2010 conseguiram reunir cerca de seis mil assinaturas pela salvaguarda do monumento, expôs um relatório no qual a Câmara Municipal de Braga admitia que «outros objetivos transcendem a importância do próprio monumento».
Para Isabel Caldeira, «as Sete Fontes não podem esperar por mais decisões políticas», sublinhando que os cidadãos já estão «fartos» de «incêndios», «abates de árvores», «poluição» e «ameaças à integridade do monumento».

Interveniente neste debate, na qualidade de participante, foi Carlos Almeida, candidato da CDU à Câmara Municipal de Braga, que recordou que «o parque verde das Sete Fontes já esteve orçamentado e nunca foi feito».
Reconhecendo que «há culpas da Administração Central» quanto ao atual estado de conservação das Sete Fontes, o deputado municipal aproveitou a sua intervenção para sublinhar que «entre 1995 e 2001 o governo era socialista e nada foi feito».
Já para a vereadora do ambiente, Ilda Carneiro, os serviços camarários «têm prestado todo o auxílio possível à limpeza e manutenção das Sete Fontes», reconhecendo que os proprietários dos terrenos já foram notificados acerca da necessidade de efetuar a limpeza periódica dos espaços.
Intervindo também como participante no debate, Ricardo Rio preferiu sublinhar a «incoerência» da autarquia quanto ao anúncio de novos espaços verdes na cidade, recordando os «largos hectares de relvados sintéticos» construídos no município, em detrimento da construção de parques.
«Se o atual executivo sempre quis proteger as Sete Fontes, como veio hoje dizer, então porque até agora tinha a pretensão de construir uma variante que iria colocar em risco o monumento?», questionou ainda o líder da oposição camarária e candidato às próximas eleições autárquicas.

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