terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A antiga Saboaria e Perfumaria Confiança

A fábrica Confiança poderá vir a ser um grande polo cultural de Braga
A Perfumaria e Saboaria Confiança foi fundada a 12 de Outubro de 1894, tendo sido seus mentores Rosalvo da Silva Almeida e Manuel dos Santos Pereira, com a firma “Silva Almeida & C.ª”. O capital inicial era de 10 contos de reis, tendo a fábrica ocupado inicialmente o espaço de uma pequena oficina, no mesmo lugar onde se ergue ainda hoje o edifício da rua Nova de Santa Cruz. A média de produção inicial situava-se na ordem de mil caixas de sabão por mês.
Inicialmente a fábrica não contava ainda com mão-de-obra especializada, o que dificultava a evolução da sua eficácia produtiva. Entretanto, e na altura em que o capitalista Domingos José Afonso se juntou ao projecto, em 1898, elevou-se o capital da empresa e foram adquiridas novas máquinas para o fabrico do sabão. Devido a problemas económicos, a 18 de Fevereiro de 1910 o capital evolui e é um período de grande crescimento da fábrica, que coincide com os anos da 1.ª Grande Guerra, aproveitando o espaço de exportação concedido pelas indústrias paralisadas dos países onde decorria o conflito. É nesta altura que se constrói o novo edifício da fábrica, que corresponde em parte ao que actualmente existe. Entretanto vai beneficiar de prémios e reconhecimento nacional, que vão impulsionar a sua produção e divulgar o seu nome no mercado.
 Em 1920 o capital evoluiu para 1.200 contos, podendo elevar-se até 2 mil contos se as necessidades o justificarem. A fábrica teria então cerca de 80 funcionários, que ganhariam anualmente cerca de 200 contos, oferecendo a empresa apoio médico aos funcionários e família, para além de outras regalias, hoje básicas, mas outrora ainda não consignadas nos direitos do trabalhador. Foi também por esta altura que a empresa adoptou pela primeira vez a designação de “Perfumaria e Saboaria Confiança”. Em 1923 a empresa já produzia cerca de 8 mil caixas de sabão mensais, calculando-se que servisse metade do consumo de sabonetes do total da população portuguesa. O objectivo nesta data passava por aperfeiçoar os produtos, tentando responder ao nível de qualidade existente nos produtos da indústria estrangeira.
A Saboaria e Perfumaria Confiança é um caso de notório sucesso entre os empreendimentos industriais da cidade de Braga ao longo da primeira metade do século XX. É certo que, analisando, as indústrias que preencheram o tecido empresarial bracarense ao longo das últimas três décadas, seremos obrigados a relativizar a dimensão da Confiança, dado ser inferior em produção, número de funcionários e volume de negócios. Todavia, percebendo o contexto histórico em que surgiu, a demografia da própria cidade nessa época, e salientando o facto de ser uma empresa detida por bracarenses, seremos obrigados a reconhecer o seu papel fundamental no desenvolvimento de Braga e o seu impacto na vida de uma das freguesias urbanas mais importantes do tecido urbano.
Os mercados principais do sabão eram as regiões circundantes: o Minho, Trás-os-Montes e o Douro. Já o mercado dos sabonetes seguia para todos os lugares do país. África, outrora destino preferencial, acabava por se ver afectada pela situação económica e pelo elevado valor das taxas que impedia a empresa de concorrer com produtos mais baratos.
A década de 50 e 60 foi talvez a época mais próspera da empresa, que dominava o comércio de sabonetes em Portugal. Produziam-se então mensalmente cerca de 3 milhões de dúzias de sabonetes, fornecendo não apenas o comércio a retalho, mas também hotéis e outras empresas que requeriam fabrico próprio. Outros produtos, como perfumes, pó de arroz, cremes, pastas dentífricas, stiques de barbear, águas-de-colónia, loções e essências, foram preenchendo certos nichos de mercado e garantindo a produtividade desta unidade fabril.
Nos anos 80 a Confiança começa a desenvolver novos cosméticos, adaptando fórmulas e oferecendo outras novas, em especial nas formas líquidas de gel de banho e champôs perfumados, como resposta aos novos estilos de vida que se começam a impor e ao pedido incessante de novos produtos por parte dos seus clientes.
Com a crescente liberalização do mercado no espaço europeu, acrescentado ao desinvestimento tecnológico das novas administrações da empresa, a produtividade foi reduzindo o seu volume, sendo a fábrica comprada pela Ach Brito em 2009, abandonando as históricas instalações.
Actualmente ainda são produzidos artigos com a marca Confiança, que são depois vendidos no denominado mercado de charme, como produtos de alto nível. Estes artigos, produzidos parcialmente numa pequena unidade fabril em Sobreposta (Braga), recuperam o rico espólio tipográfico das embalagens da fábrica bracarense.

1 comentário:

  1. Em Braga há muitos patrões e quase nenhum empresário.
    Apetece perguntar, até porque nos custa imenso dinheiro, que impacto teve na cidade a EEG da UMinho?
    Que responda a escravatura branca dos Sarotos, Telca, Companhia de Cartões do Cávado, Confiança, Pachancho, Orfama, Fehst e tantos outros descartáveis à sombra de Deus claro.
    PS. Marcar o debate para a hora do Victória-Braga também não veio muito a calhar. Mas "prontos" antes debate com pouca gente que debate nenhum.
    Que melhores ventos comecem a soprar em breve na terra que me viu nascer embora já me tenham agregado a freguesia e extinto o local de nascimento por portaria.
    Cumprimentosa todos os que continuam a remar mesmo contra a enchurrada,
    Bernardo Pereira
    Coimbra

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