quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Políticas de Reabilitação para o centro histórico de Braga



O real objeto da reabilitação urbana é a cidade. O urbano confere á reabilitação um carácter de política pública, o que difere de reabilitação arquitetónica e não poderá ser confundido com uma mera reabilitação do espaço público. O carácter intrínseco de política urbana implica uma abordagem multissectorial e integrada. Em primeiro lugar importa a consideração do quadro físico da urbe e do seu desempenho enquanto suporte da vida social, exige a dualidade intrínseca de reabilitação e salvaguarda patrimonial nas práticas de gestão urbanística. Num segundo entendimento implica a consideração do quadro económico, das repercussões sobre a economia local, sobre a atratividade, sobre a consideração da rentabilidade vs o investimento municipal. E por último implica uma consideração acerca dos efeitos sobre a dimensão social do centro histórico. Regenerar implica injetar dinâmicas de desenvolvimento. Não basta reabilitar edificado, nem maquiar o espaço público!
A capacidade de atracção, quer de residentes, visitantes, turistas e investidores implica considerar fatores como beleza ambiental e urbanística, aliada a uma riqueza patrimonial e de projeção cultural e implica dinâmicas económicas.
Integrar e potenciar a cidade economicamente, tornar o centro atrativo não se consegue apenas com modernização do espaço público; com uma ansia de modernidade sustentada em políticas de destruição da identidade e da imagem do mesmo. É necessário que o município entenda as repercussões de cada acto isolado, entenda que descentralizar equipamentos, que considerar a localização da pousada da juventude fora do núcleo histórico; criar tensões entre as grandes superfícies e o comércio tradicional; localizar o hospital e o estádio na envolvente, entre outros atos, são políticas expansionistas e não de regeneração urbana. Perante o aparecimento de novas centralidades como é que a cidade tradicional poderá ter a capacidade para competir e afirmar-se como um verdadeiro polo de atratividade?
Regenerar o centro histórico implica pro-atividade e estratégia por parte da gestão municipal, implica estar consciente das consequências, implica visão, exige ir muito além da repavimentação e, sem destruição das memórias urbanas, implica investir dinheiro público com uma rentabilidade considerada.
Projetar culturalmente Braga requer o desenvolvimento e investimento em políticas culturais e patrimoniais que permitam a identificação de uma imagem de marca para a cidade, que a identifique e valorize no panorama nacional e internacional. As transformações socioeconómicas revalorizam as diferenças e as particularidades como resposta á standardização desta nova era, e daí a tendência para a requalificação dos tecidos urbanos antigos e a aposta na recriação do passado, a preservação da memória e das tradições. Este reconhecimento pelo valor económico do património é negligenciado em Braga.
Que lugar existe nas políticas municipais para o património?! O espaço público é o património comum de cada cidadão, que lugar existe para a memória urbana?! Se defender o património consiste em preservar espaços físicos que testemunham a cidade e recriar memórias, não será então crime urbanístico descaracterizar símbolos da representação coletiva?!

Fátima Pereira

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