O real objeto da
reabilitação urbana é a cidade. O urbano confere á reabilitação um carácter de
política pública, o que difere de reabilitação arquitetónica e não poderá ser
confundido com uma mera reabilitação do espaço público. O carácter intrínseco
de política urbana implica uma abordagem multissectorial e integrada. Em
primeiro lugar importa a consideração do quadro físico da urbe e do seu
desempenho enquanto suporte da vida social, exige a dualidade intrínseca de
reabilitação e salvaguarda patrimonial nas práticas de gestão urbanística. Num
segundo entendimento implica a consideração do quadro económico, das
repercussões sobre a economia local, sobre a atratividade, sobre a consideração
da rentabilidade vs o investimento municipal. E por último implica uma
consideração acerca dos efeitos sobre a dimensão social do centro histórico.
Regenerar implica injetar dinâmicas de desenvolvimento. Não basta reabilitar
edificado, nem maquiar o espaço público!
A capacidade de
atracção, quer de residentes, visitantes, turistas e investidores implica
considerar fatores como beleza ambiental e urbanística, aliada a uma riqueza
patrimonial e de projeção cultural e implica dinâmicas económicas.
Integrar e
potenciar a cidade economicamente, tornar o centro atrativo não se consegue
apenas com modernização do espaço público; com uma ansia de modernidade
sustentada em políticas de destruição da identidade e da imagem do mesmo. É
necessário que o município entenda as repercussões de cada acto isolado,
entenda que descentralizar equipamentos, que considerar a localização da
pousada da juventude fora do núcleo histórico; criar tensões entre as grandes
superfícies e o comércio tradicional; localizar o hospital e o estádio na
envolvente, entre outros atos, são políticas expansionistas e não de
regeneração urbana. Perante o aparecimento de novas centralidades como é que a
cidade tradicional poderá ter a capacidade para competir e afirmar-se como um
verdadeiro polo de atratividade?
Regenerar o
centro histórico implica pro-atividade e estratégia por parte da gestão
municipal, implica estar consciente das consequências, implica visão, exige ir muito
além da repavimentação e, sem destruição das memórias urbanas, implica investir
dinheiro público com uma rentabilidade considerada.
Projetar
culturalmente Braga requer o desenvolvimento e investimento em políticas
culturais e patrimoniais que permitam a identificação de uma imagem de marca
para a cidade, que a identifique e valorize no panorama nacional e
internacional. As transformações socioeconómicas revalorizam as diferenças e as
particularidades como resposta á standardização
desta nova era, e daí a tendência para a requalificação dos tecidos urbanos
antigos e a aposta na recriação do passado, a preservação da memória e das
tradições. Este reconhecimento pelo valor económico do património é
negligenciado em Braga.
Que lugar existe
nas políticas municipais para o património?! O espaço público é o património
comum de cada cidadão, que lugar existe para a memória urbana?! Se defender o
património consiste em preservar espaços físicos que testemunham a cidade e
recriar memórias, não será então crime urbanístico descaracterizar símbolos da
representação coletiva?!
Fátima Pereira
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